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terça-feira, 6 de julho de 2010

O estranho entre nós.

    No começo da década de oitenta quando a criminalidade na cidade de São Paulo era mais restrita para o moradores da periferia, principalmente a violência policial. Sequestros relâmpagos, eram raros assim como os caixas eletrônicos. Nós da classe média costumávamos acampar, em áreas mais ou menos selvagens aqui mesmo do sudeste como se isso fosse possível. Acampamos já na Ilha do Mel no litoral do Paraná. No festival de rock em Água Limpa no interior de São Paulo e São Tomé das Letras. Mas um fato curioso acorreu quando acampamos no litoral sul de São Paulo próximo a cidade de Cananeia.

Éramos muito jovens e estávamos meio cru das coisas da vida, fomos em doze pessoas exatamente e já adianto que voltamos os doze sãos e ilesos  Pelo menos fisicamente, porque mentalmente  algo na alma mudou definitivamente.

Pois bem chegamos na cidade de Registro onde pela primeira vez na vida vimos uma plantação de chá. Chazal como dizem por lá. E depois sumimos para a reserva da Jureia  e indo mais pro sul pela Regis Cardoso encontramos um local apropriado para acamparmos. 

Com a mata atlântica que nem era moda na época forte e imensa, e a praia deserta. Achamos uma trilha e entramos com um passat duas portas e um maverique preto do pai do amigo nosso que nos emprestou. Eramos todos magros e cabíamos tranquilamente nele, homens e mulheres. Enfim, armamos as barracas acendemos uma fogueira e assamos salsichas e linguiças. Tomamos guaraná antártica e krush e violão e piadinhas e as estrelas de um céu que São Paulo nunca mostra, cheio claramente cheio de estrelas. Algo que não se pode esquecer nunca mais.

Iago então sugeriu que deveríamos ir pescar. Pô! Somente ele gostava de pescar e levou vara e tudo mais. Todos torceram o nariz, mas ele insistiu. Ai fomos todos nessa aventura. Sabíamos que tinha um braço de rio que desaguava no mar, porque passamos por uma ponte. E segundo Iago, nessas desembocadura de rio pro mar, sempre se pega peixes dos bons.

Fomos mais pra fazer companhia a ele. Mas, entre um gritinho das meninas aqui  e ali, piadinhas do Paulão e do Gerson, Iago ia pegando os seus peixes e somente ele. Até que Milena me agarrou fortemente.
-O que foi!
- Sei lá acho que vi um bicho correndo no mato.
- Mas tá escuro.
- Mas o mato se mexeu como se alguém tivesse nos observando.
Tomei a lanterna e naquela insistência dela joguei a lanterna na direção que ela disse e então fui eu que dei um pulo; Era um vulto uma imagem na escuridão que a luz da lanterna revelou. E podemos ver aquele vulto sumir no mato.
Iago o único calmo ali, sorriu pegando outro peixe.
- Calma gente, é algum bicho que pesca a noite ! E vê essas coisas e bem de pescador! - sorriu
Não era um bicho do mato, tinha o corpo de uma pessoa e afastou o mato com as próprias mãos. Eu mesmo vi.
- Deve ser algum caiçara. Eles caçam a noite, pescam. Calma gente! Vocês andam lendo muito a "Kripta". - disse Iago mais calmo do que nunca e sinceramente pescaria deve dar essa calma.

Bem jogamos a lanterna novamente no mato e não vimos mais nada. Iago deveria ter razão.Voltamos para a nossa barraca e fomos curtir a noite ali naquela praia deserta. Já era tarde, e entre uma estorinha e outra resolvemos ir dormir. Todos estavam muito cansado. Menos Iago que disse que ia limpar o peixes ali próximo ao mar pra gente comer no dia seguinte.

E somente com a luz das estrelas e a fogueira que já se ia apagando, os nossos olhos acostumados com a noite parecia enxergar perfeitamente. Eu me deite na barraca com a Milena ela dormiu nos meus braços e quando eu ia pegando no sono viu algo querer abrir o zíper da minha barraca era uma mão estranha e quando eu me levantei aquela coisa saiu correndo, eu peguei a lanterna e chamei a todos e saímos correndo.

Não,não era um ser. Eram mais de quatro e estranhamente a gente só conseguia ver o vulto de cada um. Jogamos a lanterna e podemos ver dois deles carregando Iago que parecia desmaiado. Pegamos o violão na mão gritando. Todos nós homens e mulheres corremos atrás daquelas coisas, como se fossemos mais loucos do que havia acontecido ali. E tão feroz por ter pego um amigo nosso que deixamos o medo do lado e só queríamos salvar o nosso amigo.

E conseguimos, aqueles seres deixaram Iago caído no chão e se embrenharam no mato. Pegamos Iago e levamos próximo da barraca, tocamos mais lenha na fogueira e enquanto alguns ficavam de butuca pra ver se aquelas criaturas voltassem as meninas tentavam acordar Iago.
Ele acordou disse que estava tudo bem, e que havia levado uma porrada na cabeça. Mas não se lembrava nada mais do que isso.
Bem tentamos dizer o que aconteceu mais ele não acreditou.  Sorrindo nos disse que estava feliz por termos se preocupado com ele e que isso contava muito.

Aquilo nos fez sorrir, e estar feliz, porque era verdade. Éramos amigos de verdade e amigos são pra esses momentos. A gente se conhecia desde a quinta série e mesmo alguns terem mudados de escola e do bairro estávamos sempre juntos. E até aquele momento não tínhamos pensado nisso.

Passamos uma noite em claro, vimos um nascer do sol sem palavras pra descrever comemos os peixes que Iago pescou e limpou e que haviam sobrados do momento que aquelas criaturas o atacou e resolvemos seguir viagem pra outros lugares. Não vimos mais aquelas criaturas, mas levamos conosco aquele fato em que as coisas podem existir mesmo que não faça parte de nossa compreensão, por exemplo a amizade que tínhamos um pelo outro e que até hoje é forte e nos ajuda.

Bem fora essa importante lição de vida, ainda eu e Gerson podemos ver as pegadas que aqueles seres deixaram na areia. Nunca se ouvir falar deles, mas pra aquelas bandas eu não passo noite alguma.

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Ulisses j. F. Sebrian

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