Segredos de Família - parte II
Seguimos lendo o diário, que às vezes
parecia insuportável para a minha prima. Mas, impulsionados pela
curiosidade queríamos saber mais.
“Heitor, e eu fomos à tarde passear
no Anhangabaú. Ele é tão gentil comigo que não sei sinceramente como
consigo viver longe dele todos os dias. Acho que tenho medo, medo de que o dia
a dia acabe com o que de mais bonito e puro há entre nós.”
“... por descobrir
o paraíso que eu tive que saber o que era o inferno."
“... na verdade esse amor por Heitor é que
me faz suportar o meu casamento. Evaldo, agora para mim é como
um móvel em casa eu cuido dele porque é preciso, apenas isso."
“vendo agora esse sentimento maravilhoso
que sinto por Heitor, às vezes fico com pena de Evaldo. Será que ele sabe o que
é o amor, e ele me ama porque eu não o amo... Ao conhecer Heitor, apreendi a
rezar pela felicidade de Evaldo."
“Estou grávida e tenho certeza de que é de
Heitor"
“Heitor ficou contente, e me pediu para
fugirmos para Manaus"
“Não posso, morro de medo de viver esse
amor dia a dia, e que ele se acabe"
“Heitor mais uma vez compreendeu, mas me
parece um pouco sem paciência como antes"
“Nasceu a minha filha é graças a Deus é
uma menina, vou educá-la para ser mulher não dona de casa e esposa. Ela não
sofrerá o que sofri."
“Heitor foi para Manaus, mas estranhamente
não estou triste. Agora sei que o amor existe mesmo a pessoa amada não estando
ao nosso lado"
“Evaldo cuida de minha filha com tanto
carinho, que não posso deixar de gostar dele agora."
“Na realidade, me sinto mais mulher do que
nunca, mais viva e feliz do que nunca, porque amo e sou amada. Tenho a
minha família e não posso deixar de dar ao mundo o melhor que
apreendi ser possível"
“Somente quando entendemos o ódio e a dor
é que podemos evitá-los. Eu vivi a dor e ódio, e depois apreendi a lidar
com eles"
“Já apreender a lidar com amor
é difícil, a não ser que você não exija do amor que ele seja seu. O amor é
livre porque é verdadeiro. Vem da alma, e alma é livre"
“Heitor me escreve constantemente,
está doente, pegou malária.
“Evaldo se aposentou e foi pescar no mato
grosso. Os dois homens de minha vida foram para o norte."
“Agora tenho que viver com a morte de
Evaldo e Heitor. Mas estranhamente, não me causam dor. Os sinto todos
os dias de minha vida, mas tenho meus filhos para terminar de criar e os meus
netos que iram chegar"
“olhando para a minha vida, posso dizer
que fui feliz, amarga, triste e profunda. Apreendi sobre o ódio e a dor, a
felicidade e amor, nunca me poupei de sentir esses sentimentos. Morro tranqüila
porque não levarei nada que não me pertença...."
Entendendo um pouco do outro podemos
entender muito de nós. E foi o que eu apreendi com essas revelações de minha
tia, que viveu escondendo o seu ódio e o seu amor, nos mostrando que o mundo é
uma fachada de coisas que acreditamos serem perfeitas, quando não somos
sinceros com os nossos sentimentos.