Num reino distante dentro de cada um de nos, uma só cor existe em todas as coisas e todos os seres e para enxergar essas cores a luz e a contra luz. Assim uma porta é sempre cinza, e sua contra luz é que a faz ser vista, como os pratos, os carros o pai a mãe e os filhos. As escolas e as cidades são cinza, na luz e na contra luz. Todos enxergam assim, assim é o mundo. E todos sabiam que o mundo era assim. Nasciam viviam e morriam sabendo que o mundo é assim.
Mas a vida está sempre criando, e experimentando e não sabemos ainda, mas desconfiamos que a vida anda mesmo é querendo nos surpreender a cada dia.
E então, ela apareceu.
Apareceu tímida e desconsertada naquele mundo cinza de luz e contra luz. E estranhamente voava, e voava não levada pelo vento, mas por que queria voar, tinha autonomia para isso. E estranhamente, assustadoramente era azul . Era uma borboleta azul.
Alguns acharam que era coisa das trevas.- Trevas naquele mundo cinza? Outros que era um aberração da natureza, outros se deliciaram, outros a admiraram, alguns queriam matá-la. Mas a borboleta sobreviveu a todos e assim com apareceu um dia se foi. Ninguém mais a viu, alguns tiveram certeza de que era uma atitude de Deus. Porque não pode ser azul num mundo cinza, e mesmo que todos não sabiam distinguir a cor azul, sabiam que era uma cor diferente. Mas enfim não se falou mais na borboleta azul. Até que num truque da vida, numa manhã gostosa de primavera, centenas, milhares de borboletas de todas as cores que naquele mundo de cinza de luz e contra luz, ficaram mais vibrantes. Cegando alguns que já eram cegos, e abrindo os olhos de quem estava disposto a isso. E o mundo que sempre foi certo em sua cor cinza de luz e contra luz, continuo como um mundo cinza de luz e contra luz, tendo agora a amostra da grandiosidade da vida, onde outras cores tomavam a todos. A coisa foi dita assim. Nesse mundo cabe todas as cores, e formas e vidas.