Cap.1 – No
elevador...
Os
sonhos, não são sonhos. São desejos guardados. São desejos que protegemos do mundo.
Elisa, não encontrou razão alguma para sorrir naquela manhã. Olhou para
o infectologista, e apenas suspirou. Não poderia desaprovar toda e qualquer
esperança que encontrara até aquele momento de sua vida ou viesse encontrar. Esperança era o oxigênio que a alimentava dia
a dia.
- O tratamento está se mostrando eficiente em diminuir a
carga viral. - disse o médico.
- Já não sinto sintoma algum!
- Ótimo! Sua resistência já está há
de um adulto. Quando chegou aqui na primeira consulta, tinha a resistência de
um bebe.
- Uma sobrevida de qualidade? – bufou
ela.
- Há muitas pessoas convivendo muitos
e muitos anos com o HIV.
- Bem... Temos que ter esperanças.
Acreditar na vida, no dia a dia. – para Elisa era preciso acreditar em todas as
possibilidades.
-E quanto ao seu marido. Ele sabe que
está contaminado?
-Foi dele que herdei esse vírus. Já
te disse Dr. Somente dele.
- Sim claro. E por favor, me desculpa! Essa rotina de médico, muitos pacientes a
gente sempre se esquece de alguma conversa. E ele como está?
Elisa mostrou um ar de indiferença.
-Saiu de casa, me deixou com os
filhos e nossas doenças... Graças as Deus os meus filhos não foram
contaminados.
-Senhora Elisa, a doença em si não se
manifestou o que é muito bom!
-Não precisa dizer mais nada doutor.
Não tenho paciência, para falsas esperanças. A minha vida acabou de certa
maneira. Fui traída, fui contaminada e abandonada. Estou só nesse mundo e com
os filhos para criar. É o que me resta nessa vida. – era preciso desabafar. Às
vezes Elisa não suportava o peso de estar contaminada.
O infectologista, sabendo que o
tratamento com a medicação retroviral potencializava a sensação de impotente em
alguns paciente e depressão em outros.
- Dona Elisa não é assim tão
dramático, nem sem esperanças. A AIDS requer cuidados especiais, mas não é o
fim de todas as coisas e sentimentos em sua vida. A senhora pode ter uma vida
afetiva se quiser, tomando os cuidados.
- Ah! Doutor o senhor é médico e está
em seu papel. E além do mais mesmo que eu queira arrumar um companheiro futuro,
assim que souber que estou contaminada, me abandonará.
-Não é bem assim...
-Não é bem assim se eu estivesse
morta. Talvez lá no céu. Aqui é assim. O mundo é assim, as pessoas são assim.
Não as culpo, eu também teria medo. Mas
foda-se. Agora tenho que encontrar um emprego para terminar de criar os meus
filhos. Quero dar educação a eles. – Elisa respirou fundo, e meteu um sorriso
no rosto. – É a única coisa que me faz sentir viva. Os meus filhos... E por
eles é que vou lutar. Por meus filhos...
O infectologista sorriu ter um
objetivo uma causa dava mais força em viver e a incentivou quanto a isso.
Depois lhe deu a receita para retirar medicamento no posto de saúde. Ofereceu
um café, água e lhe explicou mais sobre outros sintomas que a medicação poderia
lhe causar e se despediriam desfazendo-se no tempo aquele momento.
Elisa ira vê-lo no próximo mês como se
tornou rotina nos últimos dois anos de sua vida. No começo tudo foi pesado
demais, deu-lhe medo terrível de morrer e deixar os filhos. Mas também morrer e
perder a vida a sua vida. Nunca mais viu Mauro o seu ex-marido. Ele a abandou
covardemente junto com a doença. Eram
tantas pedras em seu caminho que agora com a doença mais estável podia olhar
para trás e ver que tirou uma a uma. Lutou mesmo que na solidão no desprezo e
afastamento de muitos parente e amigos ao saberem de sua doença.
“Apreendi o que é preconceito, tive
os meus também e como é horrível para quem sofre” – pensou. Mas a vida estava
ali, a sua frente a todo instante. Respirou fundo deixou o consultório e tomou
o elevador.
Ao tomar o elevador Elisa sentiu
vontade de chorar, mas lágrimas não iriam resolver os seus problemas, nunca
resolveram. Ganhou uma tragédia em sua
vida, sem ter buscado por ela, apenas confiou no marido. Mas fazer o que? Então ouviu uma voz.
- Em que andar vai?
Elisa olhou para o lado e viu um
homem acuado ao canto, com um sorriso inesperado e que lhe causou um sorriso
também.
-Ah, me desculpa, eu estava divagando
com os meus pensamentos e nem percebi que tenho que apertar o botão.
- Isso já me aconteceu. – disse o
homem cordialmente.
Elisa sorriu e apertou o botão do
térreo.
Depois o silêncio ao lado de um
estranho e a sós dentro daquele elevador. E conforme os andares iam passando o
silêncio aumentava.
Até que no sétimo andar indo para o
sexto o elevador deu um tranco e depois parou... As luzes piscaram... Acenderam
e apagaram e ascenderam novamente.
Um olhou para o outro.
- O meu Deus? – disse Elisa.
- Calma! - disse o homem com segurança.
- Calma! O elevador parou!
- Tem um telefone de emergência. –
disse o Homem e tomou o telefone. - Falou com a portaria e depois olhou para
Elisa. – O porteiro foi avisado e foi
buscar o técnico de segurança.
-Eu tenho que pegar os meus filhos na
escola. Isso não podia ter acontecido.
-Vai ser rápido. Não se preocupe.
-Desculpa a minha aflição.
-Tudo bem. Há dias em nossas vidas
que não dá para controlar mesmo.
- É verdade.
Um silêncio contínuo e perceberam que
seus olhares cruzavam vez por outra.
-Acabei de me demitir. – disse Ele,
quebrando o silêncio.
Elisa se surpreendeu.
-Puxa! Que chato.
-Pode ser, mas eu estava com saco
cheio já mesmo. E na vida às vezes é bom chutar tudo para o alto.
Ela sorriu
-Eu to com vontade de fazer isso faz
tempo.
-Apertar o botão?
-Qual botão? – Elisa olhou para o
painel a sua frente.
-O botão do Foda-se tudo.
Elisa sorriu...
-Desculpa o palavrão, mas não
encontrei outra palavra...
-É isso mesmo. Tenho vontade de
apertar esse botão...
-Prazer meu nome é Elias.
-Elisa.
Os seus olhos se apresentaram.